Personalidades Negras que Marcaram a Historia do Brasil
Zumbi dos Palmares - nasceu livre em Palmares, Alagoas, no ano de 1655, mas foi
capturado e entregue a um padre português quando tinha aproximadamente seis
anos. Foi batizado com o nome de Francisco,
aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração
da missa. Fugiu aos quinze anos, em 1670. Em 1678, o governador da Capitania de
Pernambuco, cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou
do seu líder Ganga Zumba, oferecendo a liberdade para todos os escravos fugidos
se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa. A proposta foi
aceita, mas Zumbi rejeitou e desafiou a liderança de Ganga Zumba, prometendo continuar a resistência
contra a opressão portuguesa, tornando-se o novo líder do Quilombo de
Palmares. Quilombo eram aldeias localizadas em locais
de difícil acesso, na mata virgem, para onde fugiam os negros que
combatiam a escravidão. Os quilombos representaram uma das
principais formas de resistências no Brasil Colônia. Seus
habitantes eram chamados de quilombolas.
Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695 lutando contra os opressores.
Zumbi é um símbolo da resistência e da luta contra a escravidão. O
dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território
nacional como o Dia da Consciência Negra, como determina a Lei 10.639, de 9 de
Janeiro de 2003, que inclui no currículo oficial de todas as escolas
do pais, a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", alterada pela Lei 11.645, de 10 de Março de
2008, para incluir a “História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena”. Veja estas Leis na coluna à direita deste
blog. Zumbi vive! Viva Zumbi !
---------------------------
Mãe Menininha do Gantois
Nascida no Centro Histórico de Salvador em 10 de fevereiro de 1894, Mãe
Menininha do Gantois, como ficou conhecida Maria Escolástica da Conceição
Nazaré, teve como pais Joaquim e Maria da Glória. Descendente de escravos
africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá no terreiro Ilê Iyá
Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição
Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria.
Foi a quarta das Iyálorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa do
País. Iniciada no culto aos orixás de Keto aos oito anos de idade, assumiu
definitivamente o terreiro aos 28. Foi uma das principais articuladoras do
término das restrições a cultos impostas pela Lei de Jogos e Costumes de 1930,
que condicionava a realização de rituais à autorização policial e limitava o
horário de término dos rituais às 22 horas.
Símbolo da luta pela aceitação do
candomblé pela cultura dominante, Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos
brancos e católicos. Nunca deixou de assistir às celebrações de missa e
convenceu os bispos baianos a permitirem a entrada de mulheres – inclusive ela
– vestidas com as roupas tradicionais das religiões de matriz africana nas
igrejas. A Iyálorixá faleceu de causas naturais, aos 92 anos de idade.
Lima Barreto
Filho de escravos em um Brasil que lutava para abolir oficialmente a
escravidão, Afonso Henriques de Lima Barreto teve oportunidade de boa instrução
escolar, vindo a tornar-se jornalista e um dos mais importantes escritores e
militantes da causa do País. Ainda jovem, aprendeu a trabalhar com tipografia
e, em 1902, começou a contribuir para a imprensa brasileira, escrevendo para
pequenos veículos de comunicação.
Em jornais de maior circulação, começou a escrever em 1905,
destacando-se, especialmente, no jornal Correio da Manhã, ao realizar uma série
de reportagens sobre a demolição do Morro do Castelo. Posteriormente, passou a
colaborar em vários jornais e revistas, sendo considerado um dos maiores
críticos contra o regime republicano. Simpático ao anarquismo, passou a militar
na imprensa socialista.
Resultado das lembranças do fim do período imperial no Brasil, bem como
remotas recordações da Abolição da Escravatura, os livros de Lima Barreto são
pincelados com indisfarçáveis traços autobiográficos. Eles começaram a ser
publicados em 1909, em Portugal, sendo o primeiro o romance Recordações do
escrivão Isaías Caminha. O autor teve publicados 11 livros. Sua obra mais
famosa é Triste fim de Policarpo Quaresma.
João Cândido Felisberto
Militar brasileiro, João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, nasceu
em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada, Rio Grande do Sul, numa família de
ex-escravos. Entrou para a Marinha do Brasil aos 14 anos, onde presenciou
penalidades a chibatadas sobre seus companheiros, apesar de este tipo de
castigo ter sido abolido em 1890.
No ano de 1910, liderada por João Cândido, a tripulação da embarcação
Minas Gerais se revoltou contra seu comandante, que castigara um dos homens da
tripulação com 25 chibatadas. O marinheiro passou a reivindicar o fim dos
maus-tratos psicológicos e das punições corporais, liderando assim a Revolta da
Chibata.
Outras reivindicações do movimento foram o aumento de salário, a redução
da jornada de trabalho e a anistia dos revoltosos. A principal conquista da
rebelião foi o compromisso do governo da época de acabar com a chibata na
Marinha. João Cândido foi expulso da corporação ainda em 1910, sob acusação de
ter favorecido os rebeldes. Faleceu no Rio de Janeiro aos 89 anos.
---------------------------------------------------------
Juliano Moreira
Afro-descendente nascido na capital da Bahia, Juliano Moreira ingressou
na Faculdade de Medicina do Estado em 1886, apesar da origem humilde. Um dos
pioneiros na psiquiatria brasileira, foi o primeiro professor universitário a
citar e incorporar a teoria psicanalítica em suas aulas, além de ter
representado o Brasil em congressos internacionais como os de Paris, Berlim,
Lisboa e Milão nos anos de 1900.
Moreira contrariou o pensamento racista existente no meio acadêmico de
sua época, que atribuia os problemas psicológicos dos brasileiros à
miscigenação. À frente do Hospício Nacional dos Alienados do Rio de Janeiro,
humanizou o tratamento e acabou com a clausura dos pacientes. Defendeu a idéia
de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais,
como a falta de higiene e de acesso à educação.
Uma de suas principais lutas foi a reformulação da assistência
psiquiátrica pública.
Destacou-se por incentivar a
promulgação da primeira lei federal de assistência aos alienados em 1903, ao
mesmo tempo em que sugeriu novos formatos institucionais e de tratamento para
as doenças mentais. Deve-se a esse grande cientista e gestor afro-brasileiro a
criação do Manicômio Judiciário e a aquisição do terreno para construção da
Colônia Juliano Moreira.
Antonieta de Barros
Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi a primeira
mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Educadora e
jornalista atuante, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços
que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma
mulher negra.
Deu início às atividades como jornalista na década de 1920, criando e
dirigindo em Florianópolis, onde nasceu, o jornal A Semana, mantido até 1927.
Na mesma década, dirigiu o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade. Como
educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até a sua morte, em
1952, além de ter lecionado em outros três colégios.
Manteve intercâmbio com a Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres
brasileiras puderam votar e receberem votos, filiou-se ao Partido Liberal
Catarinense, que a elegeu deputada estadual. Tornou-se, desse modo, a primeira
mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos
diretos da mulher catarinense.
Mãe Aninha
Filha de africanos, Eugênia Anna Santos, a ialorixá Obá Biyi, nasceu em
Salvador. Mais conhecida como Mãe Aninha, ela foi instruída no candomblé do
Engenho Velho – a casa de Mãe Nassô –, fundado por volta de 1830 e o primeiro a
funcionar regularmente na Bahia. Saiu de lá para formar uma nova casa, o Ilê
Axé Opô Afonjá, hoje considerado Patrimônio Histórico Nacional.
Mãe Aninha sempre lutou para fortalecer o culto do candomblé no Brasil,
além de garantir condições para o seu livre exercício. Por intermédio do
ministro Osvaldo Aranha, que era seu filho de santo, Mãe Aninha provocou a
promulgação do Decreto Presidencial nº 1202, no primeiro governo de Getúlio
Vargas, pondo fim à proibição aos cultos afro-brasileiros em 1934.
Em sua época, foi uma personalidade importante,
muito respeitada e popular, principalmente nos candomblés do Estado da Bahia.
Falecida no ano de 1938, a ialorixá Mãe Aninha foi sucedida por Mãe Bada de
Oxalá e, posteriormente, por Maria Bibiana do Espírito Santo, Oxum Muiuá,
popularmente conhecida como Mãe Senhora de Oxum.
Carolina de Jesus
Filha de negros, Carolina de Jesus nasceu em Sacramento, Estado de Minas
Gerais. De família pobre, a intelectual brasileira contou com a proteção de
Maria Leite Monteiro de Barros, que patrocinou seus estudos. Célebre intérprete
lírica brasileira, Carolina foi também escritora e tem em sua obra um
importante referencial para os estudos culturais no Brasil e no mundo.
Por meio de sua escrita de contestação, Carolina revela a importância do
testemunho como meio de denúncia sociopolítica de uma cultura hegemônica que
exclui. Sua obra mais conhecida é Quarto de despejo, que resgata e delata uma
face da vida cultural brasileira no início da modernização da cidade de São
Paulo e do surgimento de suas favelas.
Sua obra, que é considerada a literatura das vozes subalternas, inspirou
diversas expressões artísticas, como a letra do samba Quarto de despejo, de B.
Lobo; o texto em debate no livro Eu te arrespondo, Carolina, de Herculano
Neves; a adaptação teatral de Edy Lima e o filme Despertar de um sonho,
realizado pela Televisão Alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como
protagonista.
Luiz Gama
Filho de fidalgo português com uma africana, Luiz Gonzaga Pinto da Gama
nasceu livre em Salvador, porém, aos 10 anos, foi vendido como escravo pelo pai
para pagar uma dívida de jogo. Foi transportado para o Rio de Janeiro e mais
uma vez vendido num lote de mais de cem escravos, dessa vez, seguindo para a
Província de São Paulo. Aprendeu os ofícios do escravo doméstico – copeiro,
sapateiro, lavagem e passagem de roupas.
Aos 17 anos, serviu ao estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que se
hospedou na fazenda onde Luiz vivia. O jovem tornou-se seu amigo e o ensinou a
ler e escrever. Frequentou o curso de Direito, que não chegou a completar.
Tornou-se jornalista renomado ligado aos círculos do Partido Liberal. Junto a
Rui Barbosa, fundou o jornal Radical Paulistano em 1869. Foi líder da Mocidade
Abolicionista e Republicana.
Sua liderança deu origem ao movimento
abolicionista paulista. Apesar de não ter se formado, tinha autorização do
poder judiciário para exercer a advocacia em primeira instância. Sozinho, foi o
responsável pela libertação de mais de mil cativos, um feito notável
considerando-se que agia exclusivamente com o uso da lei. Luiz Gama faleceu
vítima de diabetes na cidade de São Paulo em 1882.
Abdias do Nascimento
Nascido em 1914 no município de Franca, Estado de São Paulo, Abdias foi
filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro.
Embora de família pobre, conseguiu se diplomar em contabilidade em 1929. Aos 15
anos alistou-se no exército e foi morar na capital São Paulo, onde anos depois
se engajou na Frente Negra Brasileira e se envolveu na luta contra a segregação
racial.
Dramaturgo, poeta e pintor, atuou também como deputado federal, senador
e secretário de Estado onde desenvolveu aspectos dessa luta. Autor das obras
Sortilégio, Dramas para Negros e Prólogo para Brancos e O Negro Revoltado,
relatou em seus livros as realidades quilombolas e levantou temas como o
pensamento dos povos africanos, combate ao racismo, democracia racial e o valor
dos orixás nas religiões de matriz africana.
Com uma trajetória marcada pelo ativismo,
Abdias teve como resultado de suas iniciativas importantes desdobramentos na
defesa e na inclusão dos direitos dos afrodescendentes brasileiros. Conquistas
de suas lutas foram a contemplação da natureza pluricultural e multiétnica do
país na Constituição de 1988, a criminalização do racismo e os primeiros
processos de demarcação das terras de quilombos.
Ernesto Carneiro
Médico e literato brasileiro nascido em Itaparica, Estado da Bahia, o
afrodescendente Ernesto Carneiro Ribeiro foi pioneiro ao produzir uma gramática
baseada na língua portuguesa. Diferente das gramáticas então existentes, expôs
e defendeu a normatização de peculiaridades da língua oficialmente falada no
país. Formado em medicina, Ernesto dedicou-se ainda ao magistério.
Polêmico, foi responsável por famosos debates linguísticos sobre o
parecer do jurista Rui Barbosa em relação aos oito volumes do Projeto do Código
Civil Brasileiro, publicado pela Imprensa Nacional (1902). Envolvido a
contragosto na apreciação do projeto, destacou aspectos do português falado no
Brasil, nunca antes percebidos pelos gramáticos.
Sobre o assunto, publicou A redação do projeto do código civil (1902) e
A réplica do dr. Rui Barbosa (1905). Quando recém-proclamada a República,
participou de uma comissão formada pelo governador Manuel Vitorino, destinada a
elaborar um plano de ação educacional. Ernesto Carneiro faleceu em sua terra
natal, em 13 de novembro (1920), aos 81 anos.