O MACACO E O HIPOPÓTAMO – Fábulas Africanas
O macaco Travesso possuía um grupo de bananeiras que lhe proporcionavam
frutos suficientes para a sua alimentação, o que lhe trazia satisfação e
orgulho porque os seus frutos eram os mais saborosos da região. No rio habitava
o hipopótamo Ra-Ra, que era o rei daquelas paragens. A corpulência desse animal
era notável e tão grande a sua boca, que podia tragar seis macacos de uma só
vez. Além disso, gostava imensamente de bananas e, especialmente as da
propriedade de Travesso. Ra-Ra resolveu roubar-lhe as bananas, apesar de não
ser um ato muito bonito para um rei.
Ordenou então a todos os papagaios que as trouxessem para a sua
residência. Entretanto, o macaco não arredava pé do seu grupo de bananeiras, a
fim de impedir que desaparecessem, furtados, os seus preciosos frutos. Os
papagaios logo encontraram este obstáculo sério e recorreram à astúcia para
cumprir as ordens do rei. Após uma conferência de várias horas estudando
diversas soluções para resolver eficientemente o problema do roubo, concordaram
em dizer ao macaco que seu irmão estava muito doente e desejava vê-lo. Quando
Travesso recebeu a notícia, bom irmão que era, foi depressa procurar seu irmão
doente. Verificou logo que aquilo não era verdade. Seu irmão estava gozando de
boa saúde e, suspeitando imediatamente do que se tratava, voltou a toda pressa
para perto de suas bananeiras. Uma surpresa dolorosa o aguardava. Não ficara
nem uma banana para semente. Enquanto lamentava sua perda aproximou–se um
papagaio, dizendo-lhe:
— Oh!, irmão Travesso! Sabes que Ra-Ra, o hipopótamo, nos obrigou a
roubar-te as bananas e depois não nos quis dar uma só!
— Ah! E’ assim? Então espera… Irei à casa de Ra-Ra e tirar-lhe-ei as
minhas bananas! — exclamou o macaco.
A serpente» que é um animal invejoso, cheio de defeitos, dos quais o
pior é o espírito de intriga, passou por ali por acaso quando o macaco falava
e, ato contínuo, foi contar tudo ao hipopótamo.
— Está bem! — disse Ra-Ra. — Em tal caso ordeno ao Travesso que
compareça aqui quanto antes.
A Serpente voltou ao lugar em que vivia Travesso e lhe deu a ordem de
Ra-Ra, de modo que o macaco se pôs a tremer, pois, não era tão valente como as
suas palavras pareciam revelar. Era preciso obedecer e quando se dispunha a
fazer a desagradável visita ao hipopótamo, ocorreu-lhe uma idéia. Preparou com
o maior cuidado uma boa quantidade de visgo, a cola que usava para caçar
passarinhos, e untou-se com êle muito bem. Feito isto encaminhou-se para a casa
de Ra-Ra, à margem do rio.
— Disseram-me — disse-lhe o hipopótamo, ao vê-lo — que ameaçaste de vir
recobrar tuas bananas. É certo que o disseste?
— De modo algum, senhor — respondeu Travesso. — Tanto minhas frutas como
eu mesmo estamos à sua disposição.
O papagaio combinou com o macaco...
— Bem, fico muito satisfeito em ouvir estas palavras. Sem dúvida,
quiseram fazer intriga e contaram-me essa mentira. Senta-te. Porém, procura
fazê-lo de frente para mim e sem tocar em nenhuma das bananas que estão atrás
de ti.
Assim fêz Travesso, apoiando çom força as costas, inteiramente untadas,
contra as bananas.
— Disseram-me que sabes muitas histórias. Queres contar-me uma?
O macaco dispôs-se a satisfazer o desejo de seu soberano e lhe contou
uma história muito interessante. Enquanto isso não se esquecia de esfregar o
corpo contra as bananas afim de que aderisse às suas costas o maior número
delas. Terminado o conto ,
Ra-Ra disse-lhe:
— Obrigado. Podes sair, mas toma cuidado para saíres de frente para mim.
Assim se deve fazer diante de um rei.
Nada podia favorecer melhor o macaco, que estava com as costas cheias
das bananas que a elas se haviam colado.
O macaco viu o hipopótamo. Quando se viu fora da casa do hipopótamo,
pôs-se a correr, ocultando-se. Os papagaios não tardaram a descobrir a astúcia
do macaco e foram correndo contar a Ra-Ra. O hipopótamo, ao tomar conhecimento
da notícia, teve tão grande ataque de raiva que virou de barriga para o ar,
morrendo instantaneamente. Então, os animais reuniram-se e, diante da
inteligência do macaco, resolveram aclamá-lo soberano. Ficou muito conhecido
por sua esperteza e deram-lhe, então, o nome de Sua Majestade Travesso I, o
Esperto. E o seu governo foi sábio e prudente, durante anos e anos.
(Trad. e Adapt. Leoncio de Sá Ferreira.)